Metric Conversion Quartet & Roberto Negro
Misto sensorial
O grupo transnacional fronteado por Federico Pascucci e Luís Vicente fechou no Salão Brazil uma digressão em que a música oscilou sempre entre situações paradoxais. O disco gravado em Coimbra confirmará se tamanho eclectismo arriscou, ou não, a identidade da música.
O Metric Conversion Quartet terminou em Coimbra a 6 e 7 de Dezembro (assistimos ao último concerto), no Salão Brazil, uma digressão que passou por Bélgica, Espanha e França. Federico Pascucci no saxofone tenor, Luís Vicente no trompete, André Rosinha no contrabaixo, Vasco Furtado na bateria e o convidado Roberto Negro no piano prepararam dois “sets” heterogéneos, confrontando o público com um misto sensorial que oscilou entre a improvisação mais abstracta e a convencional melodia.
Começando numa toada de parada e resposta entre piano e saxofone, foi constante a interacção, ora pacífica ora exaltada, entre o piano de Negro e a aliança formada pelo saxofone de Pascucci e o trompete de Vicente. Por outro lado, a performance ficou marcada pela sistemática submersão e emersão do quinteto, alternando momentos de melancolia, tensão, ira ou mesmo introspecção profunda, com celebrações de puro melodismo unitário. Sol de pouca dura, não estivesse qualquer dos elementos sempre à espreita da primeira oportunidade para desfazer o consenso.
O meio do segundo “set” foi o ponto alto do concerto, com uma secção rítmica deambulante e penetrante e uma dupla torrente de sopros completando um quadro sonoro próximo do psicadelismo mais contemplativo. O concerto apostou não poucas vezes na sobreposição de melodias até ao ponto da implosão que precedia a acalmia. Muito especialmente, Negro foi circular e tenso e Pascucci variou entre o irado e o dócil, caminhando sempre num terreno acidentado.
Uma música ecléctica ao ponto de perder a identidade ou versátil quanto baste? Impressões a comprovar na futura edição da JACC Records, pois ambos os concertos foram gravados.