Gorilla Mask, 21 de Julho de 2014

Gorilla Mask

Sem apelo nem agravo

texto Tiago Jerónimo fotografia Afonso Bastos

O grupo de Peter Van Huffel passou por Portugal para assinalar o lançamento do seu novo disco, “Bite My Blues”, e uma das apresentações que por cá fez foi no conimbricense Salão Brazil. Aí se assistiu a um longo assalto sonoro que esmagou o público com a sua intensidade.

Os Gorilla Mask subiram no passado sábado, 19 de Julho, ao palco do Salão Brazil, em Coimbra. O trio originário da efervescente Berlim e formado pelo canadiano Peter Van Huffel e pelos alemães Roland Fidezius e Rudi Fischerlehner esteve em minidigressão por Portugal (paragens igualmente na Parede e em Lisboa), a propósito da apresentação do seu segundo álbum, “Bite My Blues”, lançado pela Clean Feed.

Pela formação / instrumentação ninguém poderia esperar um concerto calminho. Bateria e baixo eléctrico processado por efeitos? Saxofone? Lembra Full Blast, projecto do ruidoso Peter Brotzmann. Só poderia ser som bruto, directo, barulhento e certamente incómodo para a vizinhança comprometida com o descanso. Prometia e cumpriu. Os Gorilla Mask protagonizaram uma música que se embebeda fortemente no jazz, na improvisação sem rede e no hardcore, com apontamentos de sons gerados ou manipulados electronicamente.

Dito assim, poderíamos pensar nos seminais Naked City de John Zorn. Mas, ao passo que nesses se constrói através da colagem sonora – logo, uma aliança de elementos discretos, uma junção sem redefinição ou penetração de fronteiras estilísticas –, este trio constrói através da fundição; enquanto Naked City é uma peça multiforme, irregular e heterogénea, Gorilla Mask cria peças coesas e uniformes.

Peter Van Huffel

A sua performance em duas partes assemelhou-se a um comboio que inicia a viagem andando solidamente sobre carris, mas cuja velocidade anuncia que algures a meio do percurso – é uma questão de tempo – vai descarrilar com estrondo: a bateria de Fischerlehner – certeira e musculada – e o baixo de Fidezius – pesado e não raras vezes abrasivo – formam o motor com o qual o saxofone de Van Huffel ora colabora, em perfeita sintonia melódica com o baixo, ora induz entropia, barulhento e descontrolado.

Levantou-se poeira e instalou-se a acalmia. Van Huffel alongou-se em monólogos, enquanto Fidezius lentamente destruía, através do sobre-processamento de um baixo que tudo absorvia, criando pontos de inflexão sonora. Sem apelo nem agravo, voltaram à carga mal se recompuseram do estrondo.

Foi neste registo que os Gorilla Mask protagonizaram, em jeito de balanço, um concerto de alta intensidade – pelo assalto sonoro e pela expressividade sem meias medidas – e de grande desgaste – pelo concerto demasiado longo, tendo em conta a sua natureza. Constituiu uma dose talvez demasiado alta para um público que, de tanta pancada, terá sucumbido pela exaustão ainda antes do final.

Agenda

07 Junho

Choro do Neckar

Cascais Jazz Club - Cascais

08 Junho

Afonso Pais e Tomás Marques

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

08 Junho

George Esteves

Cascais Jazz Club - Cascais

08 Junho

Jam session

Sala 6 - Barreiro

08 Junho

Paula Sousa, João Moreira e Romeu Tristão

Távola Bar - Lisboa

09 Junho

Pedro Neves Trio “Hindrances”

Parque Central da Maia - Maia

09 Junho

No-Bise

Nisa’s Lounge - Algés

09 Junho

Lorena Izquierdo, Alvaro Rosso e Abdul Moimême

Cossoul - Lisboa

09 Junho

MOVE

BOTA - Lisboa

09 Junho

Mané Fernandes “Matriz Motriz”

Parque Central da Maia - Maia

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