Norberto Lobo
Ao calor da fornalha
A apresentação do álbum “Fornalha” passou por Coimbra e pelo Salão Brazil. Se lá fora chovia e fazia frio, naquele espaço houve calor humano e caíram as máscaras…
Domingo, 18 de Janeiro. Dia de chuva e frio intensos em Coimbra. Em mini-tour de apresentação de “Fornalha” (lançado em Novembro passado pela three:four), seu quinto disco a solo, foi a vez de o guitarrista Norberto Lobo passar pelo palco do Salão Brazil. Não é que seja nova a sua abordagem menos sistemática e polida (costuma falar-se de experimental ou exploratória, não é verdade?), mas neste trabalho ela ganha maior relevância, maior espaço de influência, constituindo-se dessa forma como um desvio, pelo menos temporário, da linguagem musical a que nos tinha habituado. O concerto assim o confirmou.
Instrumental como sempre, Lobo esculpe um som rico, sem grandes arestas ou interrupções. Ora acelera o dedilhar, capturando-nos no remoinho que vai tecendo à medida que o vai esculpindo, não se inibindo de mudar de direcção e sentido de rotação, ora abranda de forma suave, permitindo uma queda que em vez de vertiginosa é contemplativa, de paraquedas. São movimentos harmoniosos para os quais se convocam tratamentos inspirados num psicadelismo mantra (ao invés do exaltante e cegante) e uma superior amplitude técnica e harmónica.
Permanecer junto de Lobo e não deixar que a máscara nos caia é tarefa problemática. Desenha um percurso suave e doce, mas que contém pequenos desafios, pequenos problemas por resolver. Ao mesmo tempo que nos relembra da profunda sinceridade e sensibilidade que podem/devem fazer parte do ser, e do conforto e calor humano que nos dominam quando (re)encontramos (mesmo que só em memória) situações – normalmente de pertença – em que somos, de forma descomprometida e relaxada, apenas nós. Nada mais.
Foi assim a tarde fria e chuvosa de domingo, 18 de Janeiro. Cerca de 50 minutos ao calor da fornalha que Norberto Lobo acendeu no Salão Brazil.