Bande à Part
Balanço à parte
O trio de Joana Guerra, Ricardo Ribeiro e Carlos Godinho foi ao Carpe Diem mostrar a sua música com diferentes ambientes e cores. A tradição camerística enovelou-se com o desejo da descoberta…
O ciclo de concertos 60/3 tem levado muita e boa música improvisada ao histórico Palácio Pombal, na Rua do Século, em Lisboa. Pela cafetaria do Carpe Diem Arte e Pesquisa, espaço que habitualmente acolhe ciclos expositivos de arte contemporânea, já passaram nomes grandes da cena improvisada e jazz nacional, como Carlos “Zíngaro”, Luís Lopes, Hugo Antunes, Helena Espvall, Albert Cirera, Sei Miguel, Ernesto Rodrigues e David Maranha, entre outros.
Desta vez (27 de Março), actuou o trio Bande à Part, grupo que reúne Joana Guerra (violoncelo, na foto), Ricardo Ribeiro (clarinetes baixo e soprano) e Carlos Godinho (percussão, objectos). Com um disco ainda recente, “Caixa-Prego”, uma edição Creative Sources, o trio apresentou ao vivo a sua mescla instrumental pouco comum.
O som do trio não se fixa numa referência única, procura diferentes ambientes e cores. Se, por vezes, a sua música pode evocar os salões nobres da realeza do século XVIII, pouco depois leva-nos até às populações índias da Amazónia. Trabalhada num diálogo permanente entre o violoncelo de Guerra (alternando entre arco e pizzicato), os clarinetes de Ribeiro e as percussões (e objectos) de Godinho, a música do trio balança entre uma natureza de câmara e o desejo da descoberta.
Entre a tradição instrumental e a vontade de quebra, a música dos Bande à Part atravessa fronteiras, do classicismo ao tribalismo. O fluxo improvisador funciona de forma contínua, evolui tranquilamente, sem grandes choques, mas seguindo um sentido comum. Após um primeiro tema, que teve a duração de cerca de meia hora, o trio explorou uma improvisação mais concisa (cerca de dez minutos) e mais focada – sobretudo pela acção condutora do clarinete de Ribeiro.