Granular Fest
Prova de vida
Poucos dias depois de ter sabido que a Direcção-Geral das Artes decidira, mais uma vez, não apoiar a actividade da associação de músicos Granular, esta deu um exemplo da sua vitalidade com um festival realizado nas instalações da ZDB, em Lisboa. Além da qualidade da música, a iniciativa valeu pelo factor de resistência.
Jorrit Dijkstra
O saxofonista e manipulador de electrónica da Holanda participara antes nos Encontros de Jazz de Coimbra e apresentara uma “masterclass” no Desterro. Na Granular Fest esteve inserido, a 5 de Junho, num quinteto em que também tocaram Paulo Chagas, Fernando Simões, João Madeira e Nuno Morão, e a 6 dirigiu um “workshop”. A música esteve algures entre uma colorida livre-improvisação electroacústica e o expressionismo característico do free jazz.
João Silva
Com os seus objectos amplificados e algum processamento, o artista sonoro de Lisboa contracenou, no passado dia 5 de Junho, com Abdul Moimême e a sua guitarra preparada. Para ser mais exacto, coberta por uma enorme chapa, sobre a qual Moimême accionou uma série de objectos que faziam com que as cordas do instrumento colocado na horizontal vibrassem por simpatia. Resultou um painel de pequenos, mas cerrados, eventos, numa viagem introspectiva e abstracta.
Paulo Curado, Bruno Parrinha e Miguel Mira
Era para ser um quarteto, com a inclusão do vocalista Tomás Freire, mas na impossibilidade de este estar presente foi com a actuação de um trio de flauta (Curado, de costas), clarinetes (Parrinha) e violoncelo (Mira) que se assistiu que terminou a primeira noite do Granular Fest. Música muito focada, regra geral suave, com economia de meios e uma elegância que a colocou no domínio da música de câmara. Improvisada, pois não havia composição nem estruturas combinadas.
ZNGR Electro-Acoustic Ensemble & João Pedro Viegas
A segunda série de concertos da Granular na ZDB começou com uma performance do grupo constituído por Carlos “Zíngaro”, Emídio Buchinho e Carlos Santos com um convidado, João Pedro Viegas. Massas sonoras coexistiram com pequenos detalhes (muitos deles provenientes da guitarra de Buchinho) e breves subidas para o primeiro plano do violino de “Zíngaro” e dos clarinetes soprano e baixo de Viegas. Boa parte do trabalho de Santos consistiu no tratamento em tempo real dos sinais provenientes do sopro, com o violinista a fazer o mesmo com “samples” do seu próprio instrumento.
Pedro Carneiro
O conhecido percussionista com actividade habitual na área da música erudita contemporânea tocou com o violoncelista Ulrich Mitzlaff e o contrabaixista Miguel Falcão, em mais uma abordagem camerística no Granular Fest. As construções musicais forjaram uma atmosfera de sonho e mistério que, apesar de bem presente, nunca distraiu a atenção dos permanentes diálogos encetados, fosse a três ou a dois (marimba e violoncelo, marimba e contrabaixo, violoncelo e contrabaixo), sempre com uma enorme entrega.
Vítor Joaquim / Miguel Carvalhais
O fecho do festival fez-se com música por computador tocada pelos dois artistas sonoros radicados no Porto que têm sido editados pela Crónica. Procurando escapar ao típico “drone” quando há “laptops” envolvidos, a peça apresentada começou por ter uma feição abstracta, com camadas de elementos, mas foi gradualmente introduzindo pulsações não muito distantes das do techno, situando-se formalmente entre as duas tendências.