Dawn of Midi, 19 de Fevereiro de 2016

Dawn of Midi

Torrente obsessiva

texto Nuno Catarino fotografia José Frade

O trio de piano jazz foi ao Teatro Maria Matos apresentar uma música minimalista que deve mais a Steve Reich do que a Thelonious Monk. Parecia feita por máquinas e não tinha lugar para a improvisação, mas entusiasmou o público com os seus ritmos compulsivos.

Não foi uma noite típica no Teatro Maria Matos, em Lisboa. A lotação da sala estava reduzida à bancada, o palco estava envolvido por fumo. Os três nova-iorquinos, Aakaash Israni (contrabaixo), Amino Belyamani (piano) e Qasim Naqvi (bateria), subiram ao palco, pelo meio do fumo, e tranquilamente começaram por afinar os instrumentos. Só depois arrancou a música: o contrabaixista deu o primeiro passo, piano e bateria acompanharam-no. Apesar da aparente natureza formal – um clássico trio de piano jazz –, a música produzida pelos Dawn of Midi afasta-se completamente dessa matriz.

Unidos, piano, contrabaixo e bateria desenvolveram padrões melódicos e rítmicos. Padrões simples, mas repetidos vezes sem conta, numa torrente obsessiva. Em tempos era moda usar-se a expressão “música minimal repetitiva”, mas esse rótulo seria a mais perfeita classificação para a música que o trio Dawn of Midi revelou ao mundo no disco “Dysnomia” (Thirsty Ear, 2013). E foi esse disco, interpretado ao vivo, sem pausas entre temas, que o grupo tocou.

A música do trio deve mais a Steve Reich do que a Thelonious Monk, afastada do jazz mas próxima da repetição hipnótica do trance. Apesar de minimal, a música não é absolutamente estática, vai evoluindo - mas vive num desenvolvimento lento. Por vezes, de repente, os três músicos lançavam em simultâneo uma pequena variação, uma mudança que funcionava como perfeita disrupção, seguindo esse novo tema com mais intensidade, cativando o público pela surpresa. Apesar da frieza dos temas, o elemento orgânico da interpretação ao vivo dos instrumentos acústicos compensava pelo equilíbrio.

Aakaash Israni

Qasim Naqvi

Mais do que exibição de capacidade técnica ou virtuosismo, a música dos Dawn of Midi é interpretada de forma robótica, como se fosse feita por máquinas, com os músicos limitados ao cumprimento do papel pré-definido. Sem qualquer possibilidade de intervenções individuais, aqui não há espaço para qualquer improvisação, não há espaço para qualquer ideia autónoma ou pequenos desvios.

NoMaria Matos a interpretação foi mecanicamente irrepreensível, como se os Kraftwerk se tivessem dedicado a praticar um jazz minimal. Após cerca de uma hora (duração perfeita), o concerto terminou, perante o aplauso entusiasmado de um público satisfeito. 

Agenda

30 Maio

Hugo Ferreira e Miguel Meirinhos

Maus Hábitos - Porto

01 Junho

Beatriz Nunes, André Silva e André Rosinha

Brown’s Avenue Hotel - Lisboa

01 Junho

Ernesto Rodrigues, José Lencastre, Jonathan Aardestrup e João Sousa

Cossoul - Lisboa

01 Junho

Tracapangã

Miradouro de Baixo - Carpintarias de São Lázaro - Lisboa

01 Junho

Mano a Mano

Távola Bar - Lisboa

02 Junho

João Mortágua Axes

Teatro Municipal da Covilhã - Covilhã

02 Junho

Orquestra de Jazz da Universidade de Aveiro & Shai Maestro

Auditório Renato Araújo - Universidade de Aveiro - Aveiro

02 Junho

Seun Kuti & Egypt 80

Auditório de Espinho - Espinho

02 Junho

Vasco Pimentel Trio

Fórum Cultural de Alcochete - Alcochete

02 Junho

Jam Session com Mauro Ribeiro Trio

GrETUA - Aveiro

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