Finn Loxbo / Anders Vestergaard + Matriz
Ao vivo e via Net
Em mais uma sessão da série Microvolumes, assistiu-se a um convencional concerto de uma dupla escandinava situável entre a improvisação reducionista e o noise e a uma interligação radiofónica pela Internet em tempo real entre músicos do Porto (Sonoscopia), Lisboa (Palácio Sinel de Cordes) e Montemor-o-Novo (Oficinas do Convento). Duas maneiras muito diferentes de criar e ouvir música. Estivemos lá…
No passado dia 15 de Abril a Sonoscopia recebeu a visita do duo escandinavo composto pelo guitarrista dinamarquês Finn Loxbo e pelo baterista sueco Anders Vestergaard. A sua linguagem situa-se entre o reducionismo acústico e o noise electrónico.
Neste concerto, Finn Loxbo (Strändernas Svall, Doglife, Fire! Orquestra) muniu-se de uma guitarra semi-acústica com um som “vintage” característico, evocativo do timbre da guitarra de Derek Bailey. Explorou-a através de técnicas não convencionais - usando arco e “slide” - e concentrou-se, essencialmente, nos harmónicos, afinando-os e desafinando-os o suficiente para produzir subtis modulações.
Anders Vestergaard (Yes Deer, Bravura in the Face of Grief) usou uma tarola com as esteiras na pele de cima, um címbalo, um arco e alguns microfones de contacto para produzir “feedbacks” controlados por um pedal de volume. Um desses “piezos” estaria mesmo acoplado a uma mola comprida que foi mais percutida do que a própria tarola, pontualmente golpeada na pele por uma só baqueta ou escova. O ruído produzido combinava com o arranhar das cordas da guitarra, assim como combinavam os arcos nos dois instrumentos. Nas cordas e no címbalo encostado à pele da tarola, os harmónicos eram cuidadosamente suscitados e combinados com “feedbacks”.
O despojamento do duo reflectiu-se no resultado final: um som simples e depurado, com espaço, eventualmente ruidoso e desafiador da sensibilidade aos agudos extremos. A duração do concerto - não mais de 30 minutos - foi abreviada pelo jantar e pelo evento que se lhe seguiu: Matriz. Este projecto assenta no desenvolvimento de um software colaborativo que permite gerir múltiplas ligações de áudio e as suas relações através da Internet, procurando a articulação entre músicos em rede e a criação de múltiplas combinações e interacções entre os diferentes lugares de apresentação e o espaço de escuta na Internet. O concerto foi transmitido pela Stress.fm e a sala de concertos converteu-se em auditório radiofónico.
Na Sonoscopia, Porto, estiveram Gustavo Costa e Henrique Fernandes (“laptops” acústicos, objectos amplificados), no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, as intervenções estiveram a cargo de Nuno Torres (saxofone alto) e Ricardo Jacinto (violoncelo, electrónica) e nas Oficinas do Convento, em Montemor-o-Novo, juntaram-se João Bastos, João Sofio, Rodolfo Pimenta e Tiago Fróis (“circuit bending”). A locução ficou a cargo de Filipe Quaresma.
O programa foi deveras interessante, com a latência própria das ligações remotas a resultar numa espécie de cadáver esquisito sonoro. Realço a solenidade desta escuta conjunta de um programa radiofónico. Sem elementos de distracção, o enfoque incidiu quase exclusivamente sobre o conteúdo musical. Enfim, uma experiência singular.