Humanization 4tet
Música Mineral
Fomos até à SMUP na Parede, para ouvir o Humanization 4tet de Luís Lopes nesta pequena tour por Portugal e Áustria. Em 2020 o quarteto estava prestes a embarcar quando a pandemia lhes apagou a agenda e por isso é com satisfação redobrada que aplaudimos este concerto que é também uma re-continuação.
A música dos Humanization é boa de ouvir em disco mas é ao vivo que ela se revela mais interessante. Isto porque o grupo junta 4 personalidades impositivas, que tocam alto e forte num permanente empurro musical. Armam a tenda no jazz mas também é rock o que ouvimos com melodias curtas e muita intensidade numa música mineral. Não podemos falar propriamente de uma frente de guitarra e saxofone (Luís Lopes e Rodrigo Amado) propelida pela secção rítmica liderada pelos texanos Aaron e Stefan Gonzalez (contrabaixo e bateria) porque na verdade eles estão todos na frente. O baterista texano nunca pausa para recarregar, está sempre a disparar num ritmo insano. É um elemento pivotal no funcionamento dos Humanization porque obriga o grupo a manter a energia no vermelho. Na SMUP esteve incrível, cansou só vê-lo. É um baterista inteligente que, apesar de frenético, está sempre a ouvir e a propor ideias rítmicas interessantes. O irmão contrabaixista, menos expressivo ao vivo, consegue ser não menos importante porque não há muitos que consigam sobreviver naquele caudal rítmico e melódico. E Aaron consegue ser consistente e garantir o funcionamento de um baixo que, de algum modo, organiza as ideias.
Já Luís Lopes e Rodrigo Amado são uma dupla gritante. Gostei particularmente naquela noite de seguir o saxofone que esteve sempre com boas ideias. O som da guitarra de Lopes é magnífico: seco, duro, faz lembrar de algum modo o melhor som de Sonny Sharrock. Amado com a tarefa difícil para um instrumento melódico de estar sempre a tocar, sempre em palco e sempre interessante.
O concerto correu por baixo de uma luz avermelhada e por duas vezes o grupo abriu espaço para o aparecimento de Ali Honchell, na frente de palco; ficamos só com a bateria e o contrabaixo e os movimentos da bailarina e coreógrafa americana a residir na Europa por poucos minutos que, depois saiu de cena, para o reaparecimento do grupo (que na verdade nunca saiu, apenas, baixou o ritmo e criou um espaço – metaforicamente falando – para a dança).
A sala da SMUP esteve quase cheia apesar de ser uma quarta-feira fria e de chuva e no final aplaudiu generosamente o concerto. Sem sair do palco o Humanization tocou o “Ghosts” de Albert Ayler em jeito de encore e assim fechou uma intensa noite de música na Parede.