Circles 44
Portas abertas
Nasceu um novo espaço cultural em Lisboa. O Água Ardente foi inaugurado no passado domingo, 13 de março, com a atuação dos italianos Circles 44 - trio de Massimiliano Amatruda (piano), Joseph Circelli (guitarra) e Andrea Grillini (bateria).
O Água Ardente fica situado na Rua Coronel Ferreira do Amaral 15-C, em Lisboa, e consiste numa pequena cave, onde se encontra uma sala central, além de um estúdio, um atelier e uma pequena oficina. Este espaço é promovido pelo baterista, compositor e improvisador Pedro Melo Alves, em parceria com Leonor Cunha, José Soares, Mariana Dionísio e Yedo Gibson. Está prometida programação regular de música ao vivo, sobretudo a cruzar os eixos do jazz, da improvisação livre e da música experimental. Nas palavras do organizador, a programação estará em colaboração directa com o Ermo do Caos (projeto de Melo Alves, em parceria com Inês Garrido, André B. Silva e Mané Fernandes) no Porto, com o objetivo de diminuir as pontes entre Lisboa e Porto, sobretudo no circuito independente.
O espaço anunciou a sua programação até final de julho - que já revelámos aqui -, um programa riquíssimo com 15 concertos distribuídos ao longo de cinco meses. As grandes instituições culturais deveriam tirar lições deste exemplo que, apesar da ausência de recursos, desenvolve um excelente trabalho de programação: apresenta propostas criativas inéditas, promove encontros musicais, dá espaço a novos talentos e não descura a atenção à igualdade de género. Magnífico!
O espaço foi inaugurado no dia 13 de março, ao fim da tarde, com um concerto do trio italiano Circles 44. Os italianos, que nos dias anteriores tinham atuado na Fábrica Braço de Prata e na Casa da Cultura de Setúbal, levaram a sua música original à cave da Água Ardente. A sala (pequena) estava cheia, com pessoas sentadas nas cadeiras, algumas pessoas sentadas no chão e muitas pessoas em pé. O trio é constituído por Massimiliano Amatruda (piano), Joseph Circelli (guitarra) e Andrea Grillini (bateria) e lançou no final de 2020 o seu disco de estreia, "Cratere". Ao vivo, o trio tratou de exibir a sua música: um jazz contemporâneo estruturado em composições sólidas, sobre as quais os três músicos trabalhavam e faziam a música crescer.
Cada instrumento revelava personalidade: o piano sóbrio, o som aveludado da guitarra, a percussão presente. O trio entrelaçava-se numa comunicação atenta. Apesar de a sala não ter as condições sonoras ideais para a fruição da música do trio (o som do piano vertical ficava abafado pelos restantes), o trio tratou de se entregar com toda a disponibilidade. A música ia crescendo nos espaços abertos aos momentos de improvisação individual e o grupo exibia uma grande fluidez, evoluindo entre estrutura e improvisação, sem solavancos. Foi um bom concerto, que o público presente reconheceu e aplaudiu.
A Água Ardente teve uma inauguração auspiciosa. Esperamos agora que as próximas atuações mantenham o mesmo nível alto. Pelo programa, promete muito.