No Project
Desempoeirado
Lá fora a areia do Saara caía sobre os automóveis de Lisboa. Lá dentro três mestres improvisadores criavam no momento uma música inédita e desempoeirada. Foi no Penha sco, em Lisboa, no dia 16 de março. Quatro anos e meio depois, o trio de João Paulo Esteves da Silva, Nélson Cascais e João Lencastre voltou a atuar ao vivo.
Foi na cave do Penha sco, na Penha de França, que o trio No Project regressou à vida, quatro anos e meio depois da sua última apresentação ao vivo. Entretanto aconteceu uma pandemia e tanta outra coisa mudou nas nossas vidas. Neste No Project juntam-se três figuras do peso da cena jazz nacional: João Paulo Esteves da Silva (piano), Nélson Cascais (contrabaixo) e João Lencastre (bateria). Músicos experientes, com linguagens próprias definidas e percursos sólidos.
Os três músicos encontraram neste “não projecto” uma possibilidade de explorarem outros universos, fora dos seus habitats naturais. Logo pelo nome, rejeitaram as convenções de um típico grupo musical: sem composições e sem ensaios, juntaram-se para, simplesmente, tocar. Em 2012 editaram um primeiro disco (edição JACC Records) e em dezembro de 2015 editaram a sua continuação, simplesmente “Vol. II” (desta vez edição da label inglesa FMR Records). Na cave do Penha sco, para assistir ao concerto integrado na programação da Robalo, a sala estava cheia.
O trio tratou de mostrar as suas premissas: três figuras notáveis do jazz usam as suas ferramentas para trabalhar uma música completamente improvisada, criada no momento. A música criada, contudo, não é abstrata, é enformada pelas referências dos elementos, desde logo sobressaindo o melodismo do pianista, que rapidamente se entrosa com contrabaixo e bateria para um caminho comum. Entre Esteves da Silva, Cascais e Lencastre nasce uma improvisação que é livre e por vezes alcança momentos de brilhantismo celestial. É uma música original, fresca, desempoeirada. Que enorme privilégio é podermos assistir a este processo de criação.