Alma Tree
Festival de ritmo
O lendário baterista Ra Kalam Bob Moses juntou-se a Pedro Melo Alves e Vasco Trilla num trio de percussão. Apresentaram-se ao vivo na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, no dia 24 de maio; na primeira parte atuaram em trio, na segunda parte o grupo transformou-se em sexteto, com os saxofonistas João Mortágua, Albert Cirera e Yedo Gibson.
O histórico baterista nova-iorquino Bob Moses, também conhecido como Ra Kalam, afirmou-se ao longo de um percurso que começou a tocar com o lendário Roland Kirk e desde então estabeleceu parcerias com músicos como Larry Coryell, Gary Burton, Dave Liebman e Pat Metheny, entre muitos outros. O veterano juntou-se agora a dois bateristas mais jovens, o português Pedro Melo Alves e o luso-catalão Vasco Trilla, ambos músicos criativos que vêm alimentando inúmeras parcerias. Com o nome Alma Tree, esta formação prometia quatro concertos em trio, aos quais se juntariam diferentes convidados; além destes, a preenchida agenda de Bob Moses em Portugal incluía dois concertos a solo e três workshops.
Inaugurando esta tour nacional, o projeto Alma Tree apresentou-se ao vivo na Galeria Zé dos Bois no dia 24 de maio. Na primeira parte do concerto o grupo atuou exclusivamente em trio, apenas três baterias em palco: Moses à direita (vista do público), Trilla ao centro, Melo Alves à esquerda. O grupo trabalhou a partir de composições de Moses, com grande espaço para a improvisação, e arrancou com o tema “One With Infinite Space”: o norte-americano começava por lançar as bases, Pedro Alves entrava em diálogo fazendo crescer a tensão rítmica e Trilla tratava de fazer uma exploração criativa da percussão, levando a música para diversas direções. O concerto arrancou morno, mas os três músicos encontraram rapidamente pontos de conexão e a música foi crescendo coletivamente. A certa altura, com alta intensidade e o trio particularmente ligado, sentimos que estávamos perante uma masterclass de percussão criativa, num verdadeiro festival de ritmo.
Na segunda parte o grupo transformou-se em sexteto, com o acrescento de três saxofonistas: o português João Mortágua, o catalão Albert Cirera e o brasileiro Yedo Gibson (os mesmos iriam tocar também no concerto de Setúbal). Três músicos que exploram diferentes registos, encontram-se aqui em improvisação jazzística: o saxofone alto de Mortágua, com um fraseado mais clássico e melódico; o saxofone tenor (e depois soprano) de Cirera, num registo aceso, entre o jazz e o free; e o saxofone soprano (e depois tenor) de Gibson, sempre em exploração criativa surpreendente (por exemplo, a iniciar o concerto a soprar pela campânula). Com os saxofonistas todos juntos, mais as três baterias, resultava numa música de fogo, com muita coisa a acontecer, muitas linhas em simultâneo, mas também momentos em que os músicos se fundiam. Um jazz enérgico próximo da “fire music” dos 70’s.
No final de um solo de Mortágua, particularmente melódico e envolvente, Moses declarou: “oh yeah, that was sweet…” Não foi apenas esse momento, foi todo o concerto. Este encontro de músicos de diferentes de diferentes gerações, de diferentes origens geográficas e de estilo, resultou curiosamente ligada. E este foi apenas o primeiro encontro entre os músicos, a partir de agora a música só pode crescer.